quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Sustentabilidade X Construções, Certificações e Futuro da Arquitetura

As palavras polêmicas são do arquiteto espanhol Luis de Garrido. Ele se juntou a outros profissionais renomados da área durante o Fórum Ecotech, realizado em Salvador, no dia 19 de agosto, e ajudou a promover debates questionadores e enriquecedores sobre o tema. Com a presença de outros nomes importantes do cenário nacional, como o arquiteto Siegbert Zanettini, o fórum examinou temas como certificações, o papel do arquiteto e o futuro da sustentabilidade na profissão.

“A sustentabilidade deve resgatar o homem à sua condição de cidadão e não de um mero consumidor.” Foi com essas palavras que Zanettini iniciou às discussões e deu o tom do que seria debatido durante o fórum. “Esse será o século do intelecto e da criação”, profetizou o arquiteto que projetou o Centro de Pesquisas da Petrobras - maior construção sustentável do Brasil.

Para ele, a arquitetura do século 21 deverá ser feita de forma sistêmica e com uma visão holística de conhecimento. “A sustentabilidade deve estar na estrutura da construção. Ser integrada ao ambiente externo, às tecnologias limpas e à racionalidade de todas as formas de ciências.” Para Zanettini, soluções sustentáveis precisam ser bem planejadas e passar por quesitos como intervenção mínima no ambiente, uso de ventilação natural e de um sistema construtivo adequado, mínimo desperdício de materiais e energia, custo competitivo, etc.

A sua palestra, que fez parte de um dia inteiro de discussões sobre o tema, foi seguida pela do arquiteto espanhol Luis de Garrido. Polêmico, Garrido afirmou, logo no inicio da exposição, que o que seria visto ali era o oposto de tudo que os ouvintes já haviam escutado sobre arquitetura sustentável.

Professor, mestre em Arquitetura Sustentável e vencedor do prêmio “Arquiteto do ano 2008”, cedido pela International Steel Building Association (ISBA) e pelo Americam Institute of Architects (AIA), Garrido é visto como um dos profissionais mais visionários da atualidade e seus projetos se destacam pela inovação e interação com a natureza.
“Estamos prestes a ver a maior revolução da humanidade”, afirmou. Para Garrido, princípios como uma nova ordem social, uma integração tecnológica, sustentabilidade e evolução do design poderão modificar, nos próximos anos, a forma como as pessoas vivem. A mudança deverá ser muito maior do que ela aparenta, acredita o espanhol. “A verdadeira sustentabilidade não é fazer placas fotovoltaicas, é fazer edifícios mais eficientes que não precisem de tantas placas fotovoltaicas.”

Mudanças de paradigmas

“Se isso é arquitetura sustentável, eu não quero ser arquiteto. Esses profissionais ficam tentando tirar a culpa para continuar ferrando tudo,” afirmou Garrido. Para ele, os profissionais de hoje “fazem o que querem e depois justificam”. Por isso, seus projetos têm metas maiores, como casas e prédios que não consomem energia, habitações móveis, que possam ser relocadas sem gerar resíduos e de forma rápida, que utilizem tecnologias inteligentes e sejam inspiradas na natureza e que faça tudo isso mantendo os custos baixos.

“Os arquitetos estão dizendo que estão fazendo arquitetura do futuro, mas estão é fazendo a mesma coisa de 30 anos atrás. Não. Tem que ter gente nova, sangue novo!” Para Garrido, existe hoje um comodismo muito forte entre os profissionais de arquitetura que continuam seguindo padrões e hábitos sem se questionarem se é possível fazer melhor. “Mas para quê fazer a mais se já compram assim?”, provoca. “Não nos questionamos. ‘Porque fazer assim? Porque sim. ’ Essa inércia é perigosíssima, ainda mais na arquitetura. Essa mentalidade não vai nos deixar evoluir. Antes eu me conformava com menos, por isso, hoje sou radical.”

Segundo Garrido, 60% de todos os resíduos e 50% do consumo energético do planeta vêm das construções, por isso a importância do arquiteto. Para ele, uma casa bem desenhada pode economizar até 60% de energia, e sem gastar um centavo a mais. “Todo mundo fala em fazer novos edifícios, o que tem que fazer é melhorar o que temos e dar uma boa educação para os futuros arquitetos.”

Em seu discurso, Garrido afirmou que essa mudança depende dos arquitetos e de sua capacidade de pensar além do óbvio. “A arquitetura tem que tentar resolver os problemas apenas no desenho”, defende. “Esses certificados Golden Plus Plus não servem para nada. Precisamos saber para onde vai a sociedade. Temos que fazer um esforço para saber aonde queremos chegar e qual desenho deveremos fazer para isso.”

Certificações

Polêmico em suas afirmações, o arquiteto defendeu as construções sustentáveis sem a necessidade de selos e certificações como parâmetros para confirmar a sua eficiência. “Certificações servem apenas para vender edifícios. Ninguém certifica se funciona, o importante é seguir o marketing. Elas focam no lugar errado, custam muito e estão levando o problema para onde não está a solução”, alfineta.

Para comprovar a eficiência dos seus projetos, ele utiliza 38 fatores de qualidade que verificam se a construção é capaz de “fazer as pessoas felizes possuindo o maior nível ecológico possível, com um desenho original, preço baixo e máximo de industrialização e pré-fabricação”. A matéria-prima e os materiais utilizados na construção, a redução máxima do consumo de energia, de geração de lixo e de emissões, a saúde do ambiente e dos habitantes e o uso do que foi construído são alguns deles.

Preço x eficiência

“Quanto custam as ações que nós podemos fazer? Agora contraste isso com a eficiência dos resultados.” Com base nos 38 indicadores, Garrido percebeu que as medidas mais eficientes são também as mais baratas e as menos adotadas.

Por essas conclusões, o arquiteto espanhol defende as soluções mais simples como as mais eficientes e acredita que essa lógica não é seguida graças aos interesses mercadológicos aliado à pouca cobrança dos consumidores. “Somos tão burros que fazemos os mais caros e mais inúteis?”, questionou.

Natureza artificial

Segundo Garrido, para construir algo sustentável é preciso começar do zero, já que cada projeto depende de fatores como o lugar, a cultura, o clima e as condições econômicas do lugar. “O homem tem que aprender com a natureza, esse é o ponto de partida. A partir daí, passaremos do nosso processo finito e linear, para o infinito e cíclico da natureza”.

Criador do conceito de “natureza artificial”, que busca identificar as leis da natureza e integrá-las nos artefatos produzidos pelo homem, Garrido defende que “devemos melhorar a natureza, e não imitá-la”. Como exemplo, ele citou a figura de Da Vinci, que observou o movimento dos pássaros, mesmo sabendo que nunca poderia voar. “Em vez de tentar fazer igual, ele observou a natureza e criou algo mais funcional – a hélice.”

Arquitetura do futuro

Quando perguntamos se ele acreditava no futuro da arquitetura sustentável como sendo apenas “arquitetura”, com todos os conceitos da sustentabilidade já inseridos naturalmente nos seus princípios, ele foi enfático: "Inshala. Tomara que sim, mas não acredito muito porque a mentalidade dos profissionais ainda é muito acomodada. Ninguém quer sair de sua zona de conforto por que desta forma já está dando certo. Mas acredito que é possível sim. Está em nossas mãos”.

Projetos

Os palestrantes apresentaram alguns projetos baseados nos conceitos de arquitetura sustentável. Zanettini exibiu o projeto de ampliação do Centro de Pesquisas da Petrobras (Cenpes), que incorporou questões sobre eco-eficiência, sustentabilidade, utilização de condições ambientais naturais, incorporação de novas formas de energia e interação com os ecossistemas natural e construído.



Já Luis de Garrido exibiu alguns dos projetos realizados ao longo dos 20 anos de carreira – todos dotados dos critérios de sustentabilidade. Entre casas, edifícios e protótipos, o arquiteto mostrou construções que, apenas pela forma como foram projetas, podem dispensar a energia elétrica para aquecer ou esfriar o ambiente, dar mais iluminação natural ao longo de todo o ano, gerar o mínimo de resíduos e garantir a montagem e remontagem de forma rápida e pouco agressiva.



Ecotech

O Ecotech - Fórum Internacional de Arquitetura e Tecnologias para Construção Sustentável acontecerá ainda em Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Porto Alegre e Curitiba. O evento também já foi realizado em São Paulo. Participaram do evento os palestrantes Antônio Macêdo Filho, Carlos Leite, Michael Laar, Daniela Corcuera, Leila Barros, Hugo Marques da Rosa, Siegbert Zanettini e Luis de Garrido.


Retirado do site: http://permaculturabr.ning.com/group/biocasa/forum/topics/sustentabilidade-x-construcoes
Dia: 11/10/2010

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